Lá em casa, no interior do Rio Grande do Sul, quando pequena, éramos meu pai e quatro mulheres: minha tia avó (tia Nila, irmã da minha avó materna, que ajudou a me criar), minha mãe, minha irmã mais velha e eu. De todas, sem sombra de dúvidas, sempre fui a menos vaidosa. Isso é, se a gente pensar na vaidade como essa coisa de gostar de se enfeitar e se “arrumar”. Tia Nila tinha unhas impecáveis, dessas compridas e meio pontudas que estão na moda agora, que eram sua marca registrada desde mil novecentos e bolinha, além do perfume, que podia ser qualquer um, desde que bem forte. Minha mãe sempre amou moda, vivia bem vestida e adorava ver as novidades nas vitrines. Minha irmã, cinco anos mais velha, era minha inspiração. Ela e suas amigas adolescentes eram meu sonho de consumo de estilo na infância. Mas eu mesma, era zero vaidosa. Tinha um cabelo fino que vivia despenteado (inclusive tia Nila vivia ameaçando raspá-lo por causa dos nós que eu não deixava ela tirar), e só fui furar a orelha com 21 anos.

TIA NILA / EU COM 8 ANOS

Na adolescência me apaixonei pelas revistas de moda, amava ver todas as novidades, a maneira como escolhiam as roupas (o tal styling), as fotografias, o mood dos editoriais, ler as matérias contando sobre tantas coisas que eu não tinha muito acesso, posto que eu morava em uma cidade bem pequena. Como boa aquariana, as novidades, as matérias, a autenticidade que aquelas revistas traziam eram um deleite, e foram uma grande influência na minha escolha de formação, o jornalismo.

Aos 19 anos vim morar no Rio de Janeiro, cursava jornalismo e comecei a trabalhar em uma das primeiras lojas da MAC no Brasil. Isso era 2005. A MAC foi a minha maior escola: de vida, de trabalho, de estilo, de beleza. Lá comecei a entender o papel que a maquiagem ocupa na vida das pessoas, que vai muito além de só colorir e embelezar o rosto. Entender como as pessoas queriam se ver no espelho, suas referências, o que para elas era bonito (que muitas vezes não é o nosso bonito). Ajudá-las a encontrar um produto aqui, outro ali, e o mais legal: mostrar que o processo é uma das partes mais divertidas de tudo isso. Adorava ensinar dicas e truques para que as pessoas chegassem naquela imagem que tinham imaginado, isso me deixava tão feliz! Lembrando que o que estou contando aconteceu em uma época em que os blogs ainda engatinhavam e o Instagram ainda não existia.

Entender como as pessoas queriam se ver no espelho, suas referências, o que para elas era bonito (que muitas vezes não é o nosso bonito). Ajudá-las a encontrar um produto aqui, outro ali, e o mais legal: mostrar que o processo é uma das partes mais divertidas de tudo isso.

Volta e meia, a síndrome da impostora vinha com força, porque afinal de contas, eu já sabia me maquiar, sabia as técnicas, tinha produtos, mas se você me perguntasse o que usava nos meus dias de folga, eu diria: “um filtro solar e um hidratante labial”. Como poderia dizer para as pessoas o quanto maquiagem era legal, se eu, quando tinha a chance de escolher, quase não usava nada? Esse foi um dos maiores paradigmas que tive que quebrar no meu caminho no mundo da beleza. Eu sofria porque achava que para estar ali, teria que amar usar mil produtos, viver super maquiada, todos aqueles estereótipos.

EU EM 2020

Depois de 9 anos na MAC, de onde saí como treinadora, fui estudar sobre cabelos, viajei, fiz freelas, e voltei para o varejo na abertura da primeira loja da Jo Malone London no Rio. Ali conheci outro mundo incrível. Os aromas, a relação das pessoas com os cheiros, com a sensação de uma vela perfumada acesa em casa, os cuidados com o corpo. Trabalhando nessa loja conheci a Manu (a editora desse site!). A atendi um dia na loja e depois ela acabou me convidando para um café. Conversamos sobre beleza, sobre marcas, sobre atender ao público, nasceu uma admiração, já que nos identificamos como amantes do bem-estar e desse mundo da beleza. Adorei o fato da Manu ter gostado do meu atendimento e ter me convidado para um bate-papo, me deixou super feliz. Em Jo Malone London foram três anos aprendendo mil coisas sobre a perfumaria e conhecendo um público apaixonado - quem ama cheiros sabe do que eu estou falando.

Como poderia dizer para as pessoas o quanto maquiagem era legal, se eu, quando tinha a chance de escolher, quase não usava nada? Esse foi um dos maiores paradigmas que tive que quebrar no meu caminho no mundo da beleza.

Chegamos em 2020 e, aos 35 anos, assumi o cargo de treinadora (pessoa responsável por orientar e ensinar práticas de atendimento ao time de venda das lojas) de Clinique e La Mer no Brasil. Atualmente, estou me envolvendo a fundo com skincare, um amor antigo, de quem sempre leu sobre isso nas revistas, os ativos maravilhosos, a ideia de beleza em uma forma mais clean, de cuidados diários.

Toda essa jornada me ajudou a compreender melhor a minha relação com a beleza, o que eu amo, e o que nem tanto, nesse universo. Aprendi a respeitar o meu jeito de ser, que evolui, e com ele mudam as minhas vontades e desejos, a maneira como quero me expressar e cuidar de mim mesma. Consegui entender como aquela menina moleca, que não queria pentear o cabelo, veio parar nesse ambiente. Porque pra mim esse é um universo que fala sobre amor próprio, sobre autenticidade, sobre se conhecer melhor, sobre relações humanas, sobre novidades, criatividade, tecnologia, inovação.

Todos esses anos conversando e conhecendo clientes me deram alguns insights sobre quais as questões mais comuns das pessoas em relações com a sua auto estima, os cuidados com elas mesmas, com os produtos. Como um presente pra você, deixo aqui algumas lições que aprendi sobre como podemos melhor escolher o que nos agrada e serve pra gente, na avalanche de tantas referências e opções que a internet, as marcas e o mundo global nos oferecem.

1. tudo começa com você

Antes de mais nada: gaste bastante tempo refletindo sobre você, o que ama e aprecia para si, e pode ter certeza que suas escolhas de beleza serão as mais acertadas e você vai conseguir mostrar sua melhor versão para o mundo.

2. faça moodboards (reais ou mentais)

Moodboards, ou pastas de inspiração, ajudam bastante nesse processo de saber que estilo de maquiagem, penteado ou de beleza como um todo, estamos curtindo na atual fase da vida. O Pinterest, Instagram, as amigas e amigos, estão aí para servirem de fonte inspiradora. Mas não só eles, a arte, cinema, viagens, te ajudam a construir seu repertório próprio, o que te ajuda a pensar como você, e como gostaria ser e apresentar ao mundo. Colecione imagens, fotos, e revise de tempos em tempos quais elementos surgem com mais freqüência nas suas inspirações, eles podem ser pontos de partida para experimentações

3. respeite seu tempo

Entender seu momento de vida e se respeitar é tão importante! Lembre que tudo muda, talvez nesse momento você não tenha tempo, ou não está afim de usar mil cremes, e tudo bem! Escolha aqueles poucos e bons que você ama e aposte neles. Caso seu momento seja de tempo livre para você e vontade de experimentação, se jogue, o que não faltam são produtos e ideias incríveis para adicionar na sua rotina.

4. cuidado com afobamentos

Tem um ditado que aprendi e levo pra vida: “não se corta cabelo em dia de festa”, ou seja, deixe para experimentar coisas novas quando estiver em casa de bobeira, tipo tentar aquele batom roxo que você tava louca para ver como fica, ou aplicar aquele produto para o rosto que você ainda não conhece. Nos momentos em que você quer estar incrível, vá nas técnicas e produtos que domina bem, assim não vai ter erro e você vai pro seu rolê super segura de si.

5. consistência é tudo

Pra fechar com chave de ouro: consistência é tudo em qualquer rotina de beleza, seja ela simples ou mais elaborada. O que traz resultado é insistir e ter continuidade, repetir técnicas e processos até eles se tornarem naturais. Lembre também que a prática leva à perfeição, ninguém nasceu sabendo fazer delineador perfeito, mas tentando e retentando várias vezes, você também pode chegar lá!

—Ana Gabriela Soliman @gabi_soliman