Esta é a terceira a parte da série Minha Jornada de Saúde, em que conto sobre o processo de diagnóstico de uma doença autoimune, passando pela descoberta da Ayurveda até os dias de hoje. Para ler a primeira parte da série, clique aqui. Para ler a segunda, aqui.

Minha relação com a comida antes da descoberta da Ayurveda não era das melhores. Ingeria qualquer coisa e não achava que isso teria consequências. Com o tempo, fui aprendendo a fazer melhores escolhas. A primeira temporada na clínica e minhas leituras sobre o assunto me ajudaram a começar a entender mais sobre a história e propriedades de cada ingrediente e o impacto deles no organismo. Foi, e continua sendo, um período de grandes aprendizados. Alguns conceitos aprendi durante as conversas com os médicos e observando os reflexos da dieta que segui durante o tratamento, outros vieram de livros valiosos. Um deles é O Dilema Do Onívoro, em que o autor americano Michael Pollan explora a dificuldade humana em encontrar um regime alimentar ideal do ponto de vista nutricional, cultural e ético.

EU HOJE EM DIA

Acredito de verdade que não existe uma única regra de alimentação que valha pra todo mundo em todos os momentos. Cada organismo é diferente. Os ciclos da vida variam e cada pessoa tem sua jornada única. No meu caso, vivi diferentes fases. Passada a etapa da dieta mais restrita que eles prescrevem para a volta do tratamento, comecei a fazer experimentos e a observar diariamente a reação do meu corpo. Isso me permitiu entender na prática o que vinha estudando na teoria. Hoje sei que os produtos processados e industrializados são meus grandes vilões. Priorizo as verduras, frutas e grãos. Preparo minhas próprias refeições, atentando para os métodos de cozimento, combinações e cada tempero usado. Há momentos em que piso na bola ou não consigo seguir uma rotina tão rígida. Meu corpo sente e me avisa, e nessas horas uso o conhecimento adquirido para compreender o que causa o quê e fazer os ajustes de acordo. Pra mim não se trata mais de estar "em forma", mas sim de me manter em remissão da Retocolite, me sentindo bem, sem dores, e com o sistema digestivo funcionando direito.

MINHA VITAMINA PREFERIDA: BANANA COM BETERRABA

A alimentação é a base de tudo hoje pra mim, mas o controle do stress e os hábitos cotidianos também fazem muita diferença. Meu dia a dia precisa ser mais regrado do que o da maioria das pessoas, com horário bem certo pra comer, fazer exercícios e ir dormir, além de práticas consideradas um pouco estranhas como fazer as refeições sem socializar para evitar distrações e poder praticar o "mindful eating". A Retocolite está controlada, tomo uma medicação alopata não invasiva diariamente e faço consultas regulares com um gastroenterologista para acompanhamento e realização de exames. Voltei à Índia outras duas vezes e pretendo continuar realizando o Panchakarma bianualmente. Embora minha doença não tenha cura, sei que sou a principal responsável por minha saúde. É um processo contínuo, que exige disciplina e paciência. Busco evolução, não perfeição. E vou seguindo.

Minha relação com trabalho também se transformou desde 2016. Troquei de emprego duas vezes e atuei como consultora autônoma antes de finalmente lançar a Shower Plant no ano passado. Não por acaso, a marca nasceu das minhas vivências e foi fundada em cima de uma ideia que ponho em prática todos os dias: a de que a busca por bem-estar é uma jornada, um processo pessoal que pode - e deve - ser aproveitado de forma leve e flexível. Antes eu achava que só seria realizada após alcançar objetivos profissionais específicos, mas entendi que é furada depositar as expectativas em cima de coisas que não podemos controlar totalmente. Hoje escolho melhor as metas e meço minha evolução pessoal com o que está ao meu alcance, um dia de cada vez. A saúde é a maior prioridade.

TÍPICO ALMOÇO FEITO EM CASA: ARROZ, FEIJÃO, BRÓCOLIS E AIPIM

Muitos me perguntam se é necessário mesmo viajar a um país distante para poder aproveitar os benefícios da Ayurveda, e eu sempre digo que depende. Meu conselho seria primeiro entender qual seu objetivo. É apenas aprender mais sobre os conceitos? Fazer algumas massagens esporádicas? Ou sente que precisa de uma transformação 360o na vida? A leitura de livros e artigos sobre o tema pode ser um bom começo. No Brasil também temos cursos e profissionais ayurvédicos bastante sérios atuando nas principais cidades. A viagem à Índia seria de todas a opção mais completa, por assim dizer. A imersão nos conceitos ayurvédicos do ponto de vista da cultura indiana traz resultados e aprendizados que só são possíveis estando lá. E embora possa parecer como uma experiência custosa financeiramente, o retorno faz valer cada real investido. De qualquer maneira, acho sempre válido conversar antes com alguém que já teve vivências na área e buscar sempre indicações de quem você conhece.

Espero que essa série tenha te inspirado de alguma forma. Adotar uma atitude responsável e pró ativa em relação ao seu bem-estar pode ser a virada de chave que está precisando e nem sabe. É claro que condições mais graves exigem acompanhamento profissional, mas a maioria das queixas de saúde, das mais complexas às mais simples, podem ser melhoradas com a alimentação e mudanças nos hábitos rotineiros. É verdade que há muitos "gurus alternativos" fraudulentos por aí, eu sei. O mar de informações no campo da nutrição e medicina não tradicional também podem desanimar. Mas com conhecimento, senso crítico, prática e paciência, você vai aos poucos se descobrindo e encontrando os melhores caminhos para se sentir bem. Boa jornada!

Fique livre para entrar em contato comigo pelo mborges@showerplant.com se quiser aprofundar a conversa. Vou adorar ajudar como puder! Ah, e estou preparando junto com minha amiga Bia Bueno, estudante de Ayurveda que citei na parte 2 da história, um guia mais completo e com dicas bem específicas de livros, sites e instituições ayurvédicas pra você que quer mergulhar nesse universo. Em breve :)

—Manuela Borges

Arte da home: Camilla Belarmino @camibelarmino