Primeiro você deve estar pensando “que título longo, né?'' Talvez sim, mas a real é que sinto falta das conversas longas, do silêncio que se instaura quando não há mais nada a dizer (e tá tudo bem), dos olhares que se encontram e que, mesmo calados, continuam conversando. Talvez eu também sinta falta de algo mais demorado, mais trabalhado, mas que tem valor na sua construção, e este texto fala sobre isso. Sobre o hábito que criamos de consumir conteúdos efêmeros pela facilidade que as redes e a tecnologia proporcionam, mas nos fazem perder a oportunidade de consumir algo criado com um envolvimento maior.

Há quem diga que influenciadores digitais são pagos "só para postar stories", e isso até rende um papo para outro texto, mas criar num ambiente virtual não é tarefa das mais fáceis. Isso porque eu - e muitos outros creators - somos multifuncionais na produção de nossos conteúdos. Somos o casting, os produtores, editores, revisores, os designers, todas essas e várias outras tarefas num único ser. Somos até arquitetos! Acredite, construir um feed harmônico nem sempre é tão fácil quanto parece.

Estar nesse universo de influência exige paciência, muito café (ou chá, também gostamos), mas principalmente tempo. E num campo ainda em crescimento, conciliar o tempo investido é uma das minhas maiores dificuldades, afinal, como conciliar a produção de um conteúdo autoral, constante, que exige criatividade e agenda hábil, com um emprego convencional numa agência de comunicação, que de fato me sustenta e também exige meu tempo? Qual é a linha tênue entre nutrir um sonho que não paga minhas contas e depende de mim, e manter-se estável num emprego que me faz sobreviver, mas não me dá tempo livre para criar com calma?

@SOMEWHEREMAGAZINE

Não bastasse a dupla jornada de trabalho, há também o fantasma da comparação. E você pode até se identificar, afinal, quem em pleno século XXI não caiu na armadilha da autossabotagem? Quem nunca se comparou ou acreditou que a grama do vizinho é mais verde que a sua? Esse mix de incertezas, somado à dificuldade de ser ágil e criativo na mesma proporção, aliado a comparações desnecessárias com outros criadores, resultaram em dias de um intenso conflito interno. Então, há algum tempo atrás, rolando o feed do instagram encontrei um post do Studio Said que me prendeu pelo visual minimalista, típico do meu gosto, mas também pela mensagem simples e necessária pro momento que eu estava vivendo. "What the f*ck is Slow Content? Uma nova maneira de criar conteúdo".

Diante de tantas confusões, aqueles termos vinham até mim como a típica luz divina que vem do céu nos filmes. O canto angelical “oooh” ecoava na minha mente quando li sobre a explicação sobre Slow Content, que na tradução seria algo como “conteúdo lento”, “bloggar devagar”. Esse é o movimento de criadores que acreditam que para criação de um bom conteúdo é preciso, primeiramente, respeitar o tempo do creator. É literalmente sobre postar devagar, num ritmo onde você possa se encaixar em suas próprias necessidades, vontades, prioridades, sem se cobrar pelo que outros têm feito ou esperam de você. É sobre criar com propósito, história e verdade, não apenas pelos números e métricas.

"Não bastasse a dupla jornada de trabalho, há também o fantasma da comparação. E você pode até se identificar, afinal, quem em pleno século XXI não caiu na armadilha da autossabotagem?"

Quando comecei a seguir alguns passos do slow content, notei que meu prazer pela criação de conteúdo voltou. Claro que, como qualquer ser humano, ainda tenho meus dias. Uns mais fáceis, outros nem tanto, mas compreender que meu tempo não é o tempo dos outros me fez crer que posso me permitir ao resguardo em dias mais tristes. Que eu posso sumir e não querer postar por dias.

Sei que soa clichê, mas criar devagar é sobre também se desconectar para se reconectar com outras coisas que te definem e completam muito mais que likes numa foto ou views num IGTV. É se reconectar com a música que te conforta, com o cheirinho acolhedor de café pela manhã, com o pôr do sol bonito que você aprecia com os olhos, e que também pode tirar foto pra registrar se quiser. O que não precisa é se sentir obrigado a postar porque faz dias que você não atualiza seu feed...

Num mundo onde queremos tudo pra agora, de maneira rápida e fácil, nos esquecemos que, assim como velas, precisamos de tempo pra queimar, pra se refinar, e só aí continuar iluminando.

—Jonas Netto @imjonasnetto