Sou mais uma mulher que cresceu em uma cidade urbana, São Paulo. Sempre amei viajar — como provavelmente toda sagitariana — especialmente para natureza, mas por viver em São Paulo, meus maiores estímulos, influências e circunstâncias durante a maior parte da juventude foram relacionados à cidade grande: restaurantes, festas, bares, cinema, arte, shows, esportes etc. Me formei em Cinema, depois de centenas de "uni duni tês", já que tenho interesses múltiplos e logo em seguida comecei a trabalhar em uma produtora. Em 2012, mesmo ano em que comecei a trabalhar, voltei a praticar yoga duas vezes por semana. Já havia praticado algumas vezes na vida, a primeira delas com 11 anos, ia com minha mãe fazer aulas em um estúdio do bairro, mas desde bem pequena já fazia Sarvangásana, Halásana e Nauli Kriya no tapete da sala de casa, sem saber que aquilo era yoga.

EU NO SUL DA ÍNDIA PÓS PROCEDIMENTO AYURVÉDICO

Um dia, quando cheguei no estúdio de yoga, senti uma explosão de aromas. Cheiros que me faziam sentir em paz, acolhida e confortável. Perguntei para o professor o que era e ele disse que estava preparando uma sessão de Shirodhara e explicou: "Um tratamento onde um líquido medicado (normalmente óleos) com ervas, morno, cai sob sua testa (região do Ajna Chakra - o terceiro olho) em um fluxo contínuo" e só de visualizar a imagem que ele acabava de descrever, sob o efeito daqueles aromas, já me sentia mais relaxada. É interessante como às vezes nós demoramos para nos abrir para algo que nos desperta e nos faz bem mesmo aquilo estando logo ali, disponível para nós em apenas um "sim", mas, tudo no seu tempo.

Como tinha oportunos 20 minutos antes da prática para aprender mais (o prédio onde eu trabalhava era vizinho do estúdio de yoga) passei a fazer perguntas para o meu professor sobre aqueles aromas e foi assim que dei o primeiro passo de encontro ao meu tesouro: Ayurveda, ele disse. Já tinha o nome da chave que precisava encontrar. Voltei para casa e — como boa aquariana (meu ascendente) — comecei minhas pesquisas sobre Ayurveda: Ayur=Vida / Veda=Ciência. Ayurveda, A ciência da vida. Diferente do Ocidente, essa ciência enxerga o homem de maneira integral: mente, corpo e espírito.

ESTÁGIO DE PANCHAKARMA COM DR. RUGUÊ NO ASHRAM BRAHMA VIDYALAYA EM UBERLÂNDIA

Como defini para Manu em nossas trocas ayurvédicas, e ela citou em seu texto, o Ayurveda entende que há uma unidade em tudo que existe na natureza e ela se manifesta em cinco estados diferentes: terra, água, fogo, ar e éter. Estes elementos combinados formam os Doshas - Vata (ar + éter), Pitta (fogo + água) e Kapha (terra + água). Tudo o que existe no Universo é constituído por essas energias, desde os minerais aos nossos pensamentos. A combinação desses elementos em nós é única, assim como nosso DNA, e molda nossa estrutura física, emocional, intelectual e espiritual, é por isso que cada um reage, sente e funciona de maneira diferente neste mundo, o que faz de nós 7 bilhões de universos únicos ligados pelo Planeta Terra e também significa que, o que é bom para um pode não ser para outro (alimento, exercício, clima, estilo de vida, medicamento), já que cada Ser é único.

Para haver vida é preciso haver movimento e toda vida faz parte da natureza. Para esse fluxo orgânico que é viver estar em seu potencial, é preciso estar em equilíbrio, exatamente o que o Ayurveda nos ensina: como a vida funciona em nós. Essa descoberta explodiu a minha mente e então anunciei para o mundo: "Encontrei o sentido de tudo e preciso saber mais sobre isso". Bom, neste momento eu já tinha a chave do meu baú de tesouros, agora era só encontrar o mapa para acessá-lo.

PUJA EM HOMENAGEM A MAHA SHIVRATRI - FESTIVAL EM REVERÊNCIA AO SHIVA

Um pouco antes da minha descoberta, comecei a assinar uma revista chamada "Cadernos de Yoga" que vinha do Sul e chegava no início de cada estação do ano. Agora te apresento o que chamo de "sincronia da abundância": quando você está aberto para receber abundância em sua vida, sabendo que ela desconhece limites, ela vem de maneira sincrônica com o que você quer manifestar, coincidências não existem — e naquela mesma semana de pesquisas sobre Ayurveda, minha revista chegou junto com o outono, e logo na primeira página estava o mapa do meu tesouro: "Curso de Formação de Terapeuta Ayurveda com Dr. José Ruguê da Escola Yoga Brahma Vidyalaya". Onde o curso acontecia? Apenas quinze minutos de caminhada da minha casa. Quando iria começar? No mês seguinte. Foi assim que, em 2012, a minha jornada no Ayurveda começou.

Segundo o Ayurveda, saúde não é apenas a ausência de doenças. Saúde é viver bem e em harmonia social, mental e física e assim experienciar seu estado de potência para realizar qualquer que seja a sua missão nesta vida. Por isso eu chamo o Ayurveda de tesouro. É o conhecimento que disponibiliza as ferramentas que preciso para me tornar responsável pela minha saúde e poder manifestar a realidade que preciso estar com a clareza de quem eu sou. Algumas coordenadas geográficas da minha jornada no Ayurveda eu compartilho hoje com você. São hábitos simples que trouxe para minha vida e que podem ser aplicados a todos que se identificarem, lembrando que cada ser e cada jornada são únicos e trocas com outras pessoas no mesmo caminho são essenciais para uma experiência segura e positiva.

EU EM NEW DEHLI APRENDENDO A FAZER ÓLEOS AYURVÉDICOS MEDICADOS

1. construa uma relação íntima com a natureza

Éter é o espaço, expansão, sutileza, conexão; Ar traz movimento, leveza, secura, inquietude; Fogo é energia, calor, ação, transformação; Água lubrifica, preenche, acolhe, nutre; Terra traz estabilidade, inércia, solidez. Perceba que tudo se manifesta nos cinco elementos e saiba reconhecê-los. Os alimentos que você consome tem quais características? São secos como ar? Pesados como terra? Entenda que preguiça é a inércia da terra, que raiva é fogo queimando, que ansiedade é excesso de ar. Passe a reconhecer as características dos elementos e observá-los no seu dia a dia.

2. familiarize-se com o seu fogo digestivo

Uma palavra muito comum no Ayurveda é o Agni — o poder de queimar, transformar — nosso fogo digestivo. De forma geral alimentos processados, muito gordurosos, fritos, mais difíceis de digerir e/ou se alimentar em excesso exigem muito mais do nosso Agni o que pode causar um incêndio ou manter nosso fogo uma pequena chama cansada. Quando o Agni está em quantidade e qualidade suficientes, não há formação de toxinas no corpo então a mente e os sentidos são claros e precisos e temos energia suficiente. Por isso, escolha bem o que ingere, prefira alimentos naturais, orgânicos e coma apenas a quantidade que cabe nas palmas das suas mãos, esse é o tamanho original do seu estômago.

3. viver bem é viver em equilíbrio e ele é dinâmico

Familiarizado com as qualidades dos elementos, presencie diariamente o que está faltando e o que está acumulado em você e ao seu redor para então equilibrar-se. Um dia de tristeza pode melhorar com algum movimento como uma boa caminhada — faça o excesso de água evaporar. Um banho de óleo com toque carinhoso protege e cuida de articulações secas e frágeis — nutra o acúmulo de secura. Uma falta de apetite pede um alimento picante — acenda o fogo digestivo. É simples, como deve ser.

O Ayurveda é amplo e possui mil facetas, pode ser desde uma ferramenta pontual a um estilo de vida, a depender de seus objetivos. Para encontrar o seu, a minha sugestão é começar por aqui, uma pequena bibliografia para iniciar sua jornada. Seja bem-vindo(a) a esse encantador universo de infinita riqueza!

  • Uma visão Ayurvédica da Mente, de David Frawley
  • Ayurveda, a ciência da auto-cura, de Vasant Lad
  • Ayurveda e a Terapia Marma, de David Frawley
  • Ayurveda, Cultura de bem-viver, de Márcia de Luca e Lúcia Barros
  • Ayurvedic Healing, a comprehensive Guide, de David Frawley
  • Yoga and Ayurveda: Self Healing and Self Realization, de David Frawley
  • Nutrindo seus sentidos, de Laura Pires
  • Ayurveda, saúde e longevidade na tradição milenar da índia, de Dr. Danilo Maciel Carneiro

—Beatriz Bueno @biambueno