Uma das melhores coisas que fiz nessa quarentena foi ter me dado a oportunidade da permissão. Me permiti de diversas formas com o que posso e o que tenho.  Pensei no que estava me travando e resolvi confrontar. Claro que não se trata de nenhuma briga, até porque nem tenho cabeça para isso. Mas pelo fato de ter apertado a opção de desinstalar por um tempo. Sim, numa madrugada de sexta para sábado eu resolvi me retirar do Instagram. Fiz uma promessa comigo mesma e planejei para uma semana. Aquilo já era muito, mas decidi experimentar.

@ANNAP_CHAGAS

Não tenho nada contra o aplicativo, pelo contrário, sou fã, engajada, antenada e posto todo santo dia. Mas isso não estava me fazendo bem. Não me sentia produtiva e só depois que eu me tocava que estava horas dentro de um feed de notícias. Nem conteúdo, nem exercício físico e muito menos um texto. Eu não conseguia produzir nada. Uma ansiedade que só crescia. No meio de uma pandemia eu me coloquei num jogo que nem sabia jogar. Fiquei perdida e pedi para sair.

Sou Jornalista e Publicitária, mas acredito que não precisa ser da área da Comunicação para saber que o Instagram é uma moldura daquilo que a gente quer mostrar. Não que seja errado, mas a vida não é somente aquilo. Nem todo casal é tão romântico como na foto, nem toda comida é saborosa como mostra a imagem. Assim como nem toda make é boa como diz a propaganda e nem toda blogger é fofa. Ainda bem que o perfil do “Perrengue Chique” mostrou que nem toda viagem a Paris é charmosa. A questão é que a gente sabe, mas ainda assim se compara, se ilude e repara. Comenta as fotos e a mente se movimenta, se inspira ou lamenta.

Durante esse tempo, muita gente foi para o aplicativo como forma de “socializar”, interagir e matar a saudade, já que que a ideia é e continua sendo #FicarEmCasa. Vi colegas se transformando em blogueira, atriz, cantora, dançarina e pintora. Tinha gente que era 3 em 1 e quando eu mal acordava já tinha feito yoga, suco de abacaxi com hortelã, bolo de cenoura, dublado no Tik Tok e pintado uma parede. Isso tudo antes das duas da tarde. Sem contar a galera que fazia curso online, cortava franja, fazia foto de look do dia e militava por um Brasil melhor. Tudo numa segunda-feira só, enquanto eu ainda estava me recuperando do Fantástico da noite anterior.

@ANNAP_CHAGAS

Sim, era engraçado por um lado e desesperador por outro. Cheguei a questionar minhas conquistas, história e trajetória. E durante uma insônia musical, decidi desinstalar o aplicativo. Confesso que nos primeiros dias achei exagero e até pensei em voltar. Mas refleti bem e resolvi continuar. Comecei aos poucos e em poucas horas me vi fazendo arte, ouvindo arte e consumindo mais arte. Resolvi pintar um quadro, ouvir mais músicas, ler uma revista além do livro e assistir filme. Sim, eu não conseguia parar uma horinha para assistir um filme por conta da rede social. Maratonei uma série italiana, me apaixonei pelo protagonista, mudei o visual e dei mais atenção para o meu cachorro.

Algumas pessoas sentiram a minha falta no Instagram e se preocuparam. Afinal, era todo dia um conteúdo diferente da minha parte. Mas expliquei que estava tudo certo e que precisava me retirar. No meio da semana uma amiga veio com uma fofoca de celebridade e pediu para eu voltar e acompanhar, não pensei duas vezes e neguei. Dei justificativas coerentes e boas reflexões. Em seguida, ela disse que também precisa fazer um mini detox virtual. Foi bom e necessário, a ideia era uma semana e durou dez dias. Comecei a enxergar as situações por outro ângulo e sentir que tem coisas bonitas fora da moldura sim. Essa permissão foi um belo autoconhecimento. Tive que me entreter e me entender fora daquela plataforma e fiquei sabendo que sou capaz disso e muito mais. É preciso ter força, paciência e sabedoria. Ir com calma e acreditar que vai rolar. Enfim, o look do dia pode ser lindo, mas a mente equilibrada vale mais do que mil likes. Ah, minha terapeuta me parabenizou, pois fui maior que o meu gatilho!

—Anna Paula Chagas @annap_chagas