Se você, assim como eu, tem tido dificuldade de lidar com algumas emoções ultimamente, estamos no mesmo barco. Não que seja OK esbravejar em cima dos familiares pra descontar aquilo que nos aflige internamente, mas assim, vamos começar sendo compreensivos com nós mesmos. Estamos passando por tempos muito difíceis! Posto isso, penso ser sempre válido buscar conforto em conversas com amigos e também a opinião de profissionais. Psiquiatras e psicólogos andam bastante ocupados buscando entender como melhor auxiliar seus pacientes nesse momento, muitos aderindo ao modelo de telemedicina e atendendo por zoom ou whatsapp.

@TARAMILKTEA

Na tentativa de lidar melhor com meus sentimentos, conversei com a psicóloga graduada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com formação em Terapia Cognitivo Comportamental Bia Garcia (que também está atendendo à distância, fica a dica!), pra entender, do ponto de vista técnico, o que as pessoas vêm sentindo e qual a melhor forma de gerenciar as emoções.

O que ela me contou foi que existe uma forma de regular as emoções que é relativamente simples de colocar em prática quando sentimos que estamos com dificuldade emocional chamada: autoregulação emocional. "A autoregulação emocional é a nossa própria capacidade de regular as nossas emoções. Muitas pessoas não sabem, mas todas as emoções têm um papel fundamental na nossa vida e uma razão de existir." — Bia me disse. O pulo do gato seria pré-identificar as emoções e sensações difíceis que costumamos sentir com maior frequência, e ter à mão atitudes que podemos tomar assim que elas começarem a aparecer. Sem mais delongas, segue o que a Bia me contou que podemos fazer quando sentimos...

raiva (da desigualdade no mundo, do governo...)

"A raiva é uma emoção relacionada à indignação e à injustiça. Quando alguém ultrapassa algum dos nossos limites, ou desrespeita algo que é importante pra nós, é essa emoção que vai nos sinalizar que não gostamos e que não podemos deixar isso acontecer. A gente cresce ouvindo que “ter raiva é feio” ou que “raiva é coisa de gente agressiva e descontrolada.” O que a maioria das pessoas não sabe é que se a gente engole a raiva, aí mesmo que ela vem com força. Perceber e entender a sua raiva é o primeiro passo para não ser dominado por ela!"

ansiedade (dispensa explicações)

"Atire a primeira pedra quem nunca disse “eu não queria ter ansiedade”! A ansiedade é a nossa emoção responsável por indicar uma ameaça, por isso um certo nível dela é necessário para nossa segurança, o problema é quando ela está desregulada e acabamos vendo atividades do dia a dia como ameaçadoras. As pessoas acabam subestimando suas capacidades e superestimando o perigo, o que nos dá aquela sensação chata de incapacidade diante dos nossos problemas mesmo quando temos habilidades para resolvê-los. Se a sua ansiedade te impossibilita de viver a vida que você gostaria, vale a pena buscar ajuda psicológica e alcançar a tranquilidade que você merece."

medo (bate forte no meio da noite, né?)

"O medo sinaliza perigo e precisamos ressaltar como isso é importante. Às vezes passamos mais tempo julgando nossos medos do que conversando com eles. Só quem já experimentou uma boa conversa com as próprias emoções sabe como elas são sábias. O medo pede que a gente vá com cautela, observe os perigos, ele quer cuidar de nós. O grande problema do medo é quando a gente entende que ele quer nos paralisar, mas na verdade tudo que ele quer é nos alertar e poder ir embora com sua missão cumprida. Acolha seu medo, olhando para ele com carinho vocês podem dar as mãos para uma caminhada leve e segura."

tristeza (a qualquer hora do dia, ela vem e nos derruba)

"A tristeza é uma emoção que muitos tentam evitar, mas ela pode nos sinalizar coisas importantes. Se percebemos nossa tristeza podemos ter informações importantes sobre como estamos conduzindo nossa vida e nossas relações. Ela vai sinalizar sobre uma falta, uma insatisfação ou nos mostrar o momento em que estamos nos afastando de nossos maiores sonhos e desejos. Se me percebo triste no meu trabalho, por exemplo, e tento entender essa tristeza, percebo que pode ser a hora de um ajuste ou mudança. Mas se eu escolho deixar ela lá embaixo do tapete, corro o risco de me afastar tanto de mim que posso virar minha própria tristeza e seguir sempre infeliz. Por mais desafiador que pareça, olhar para a nossa tristeza nos dá a possibilidade de entender o que ela quer nos dizer: “Ajusta, isso não tá legal. Busca a felicidade que você merece!"

desânimo (às vezes intercalado com euforia)

"Ficar preso em casa é desanimador, a gente não pode negar. E tudo bem aceitarmos essa sensação de desânimo. Como ficar animado em meio a uma pandemia? Mas aceitar não precisa significar entrega total. Venho falando muito com meus pacientes sobre ressignificar o ficar em casa. Se antes ficar em casa era sinônimo de “chatice” ou de ficar trancado triste no quarto, hoje significa nossa segurança. Então precisamos atualizar nossas intenções não é mesmo? Tentar se aproximar de você nesse momento redescobrindo hobbies e o que te faz bem, faz parte desse processo criativo de buscar saúde e bem-estar em meio à adversidade."

exaustão e sobrecarga (#exaustos)

"Como anda sua cobrança? Não tem jeito, exaustão fala sobre excesso! Procure ver se algum limite foi ultrapassado ou se alguma exigência pode ter sido cruel. Às vezes a gente não se dá conta do quanto se impõe até não aguentar mais. Descanse. Respire. Se dê o que você precisa, antes de embarcar em mais alguma atividade."

tédio (o que eu chamo de sensação de "criar limo")

"E quem disse que a gente não pode sentir tédio? O que todos falam é sobre matar o tédio ou evitar o tédio. É o primeiro que faz a gente abrir a geladeira e beliscar alguma coisa só pra “ter o que fazer”. Mas a verdade é só que o tédio é uma vontade de novidade! Estar entediado só piora quando a gente coloca atenção apenas na insatisfação de não estar fazendo “nada”. Mas já parou pra pensar que a gente se cobra estar ativo ou entretido o tempo todo? Que tal aproveitar o tédio para olhar com calma para você, para um sonho ou para quem você ama? Veja o tédio como uma pausa, um impulso para sua criatividade e oportunidade! Aposto que vai descobrir muitas coisas interessantes!"

Em resumo, o que devemos ter em mente, segundo a Bia é: "precisamos acolher nossas emoções, reconhecer sua existência e tentar compreender a mensagem que elas querem nos passar, para que alguma atitude seja tomada em busca da nossa felicidade." Anotado?

—Manuela Borges