É um tanto louco para mim escrever com alguma propriedade sobre burnout quando me sinto tão perto de ter um e tão distante de soluções. Mais do que um texto, essas palavras são o início de uma conversa, portanto, fica o convite para opiniões e trocas.

O burnout é mais conhecido como o auge que podemos chegar do esgotamento, principalmente no trabalho quando há acúmulo de tarefas, mas pode se estender para as mais diferentes áreas da vida quando nosso limite emocional é atingido. É quando a exaustão vira rotina que entra mais um fator de seriedade sobre o burnout: em alguns casos na psicologia e psiquiatria, pode ser definido como um distúrbio, uma síndrome. A Síndrome de Burnout envolve vários indícios psicológicos como nervosismo, sensação de fracasso e negatividade que podem chegar aos sintomas físicos como insônia, fadiga, dores de cabeça ou musculares, pressão alta e outros tantos perigos. Segundo matéria do Ministério da saúde, esses sintomas surgem de forma leve, mas tendem a piorar com o passar dos dias e, assim, muitas pessoas podem confundir com algo passageiro e não dar a devida importância aos sinais do próprio corpo. Tomemos cuidado com isso.

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Em uma manhã de trabalho comum, pensei em como já tinha acordado atrasada naquele dia e no peso que tem isso. Depois de uma noite mal dormida – insira aqui pandemia, mundo diferente, saudade, tempo extra para pensar, sono desregulado – remexi na cama até ela vencer por insistência. Nem sei por quanto tempo. Mas sei que acordei já tarde demais, depois de ignorar inconscientemente o despertador e todos os alarmes extras. Passava das 9h e o celular pipocava de mensagens, os e-mails e mensagens do dia anterior pós-expediente já se acumulavam com tudo que tinha acontecido naquele novo pedaço de dia. A sensação de descanso do sono nunca nem vi. Lembro que, em algum momento, uma amiga perguntou no Whatsapp se eu tinha um tempinho para opinar num assunto.

Eu sempre tento arrumar um momento para quem é importante, mesmo que nem sempre eu me saia bem sucedida nisso. Então sim, eu falei que poderia conversar. Só que meu primeiro pensamento sem filtro foi “eita, logo hoje que eu já acordei sem tempo”. Falamos tanto isso, com tanta naturalidade. Mas, na verdade, quando já acordamos atrasados e na cobrança da pressa, significa que nossos dias começam assim e tendem a acabar do mesmo jeito. Efeito dominó. Com pessoas como pecinhas. A lista de coisas a fazer no dia como responder os e-mails, entrar na imersão do trabalho e produzir material aproveitável, a casa que se perdeu na própria bagunça, um prazo que está se esgotando sem a metade ter sido feita, a última calcinha limpa na gaveta, o remédio de pulga da cachorra que venceu, a pilha de louças que se acumulou desde o jantar passado - “aliás, hoje eu já comi?” - mais os recentes desgastes dos desdobramentos pandêmicos e políticos pode ser um looping: produzir, planejar, se esgotar e ainda assim ter a sensação de não dar conta. De que não é suficiente.

Insiro aqui um segundo para respiro. E para compartilhar dicas que venho tentando colocar em prática para equilibrar trabalho e saúde mental.

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1. Nos ouvir e respeitar

Não à toa, contei como exemplo o caso em que minha amiga mandou a mensagem no meio de um dia corrido e mesmo assim, tirei 10 minutos para falar com ela. É porque no meio dessa turbulência, também está o que eu enxergo como o começo da solução: respeitar e ouvir o que é mais importante para nós. Em meio ao compasso acelerado do coração, a fadiga no peito e o embrulho na boca do estômago fica difícil parar para refletir sobre a origem disso. Mas quando esses sintomas vêm depois de pensar em alguma das tarefas rotineiras, é sinal de que nossos limites mentais e corporais precisam ser ouvidos e, sobretudo, respeitados.

2. Pausa pro respiro

Para os momentos em que preciso sair do looping de prazos, lista de afazeres e do acúmulo tão grande que fico até perdida sem saber por onde começar a resolver minhas pendências, eu respiro. Puxo o ar durante 5 segundos, prendo por mais 5 e expiro ao longo de outros 5 segundos. Repito o processo duas ou três vezes. Lavar o rosto, as mãos ou beber água também podem ser movimentos aliados em meio ao auge do nervosismo. A sensação da água na pele ou descendo pela garganta me faz focar em ações palpáveis até que eu recobre a consciência racional que me diz em tom de acolhimento: nada disso é mais importante que você se concentrar em não surtar agora. E assim vou.

3. Papo honesto comigo

Durante a pandemia de Coronavírus, uma questão se torna urgente: como equilibrar as demandas de entrega do trabalho e manter a saúde, quando é exigida qualidade e quantidade em meio a uma crise global de saúde? Analiso os compromissos que assumi, reavalio se tenho de fato tempo e energia para cumpri-los. Se não tiver, é o momento de uma troca honesta com meus superiores no trabalho, em que possamos chegar a um comum acordo sobre a entrega de material. Isso não precisa ser sinônimo de irresponsabilidade e de falta de comprometimento. Analisar essa relação me fez ver que responder mensagens de WhatsApp sobre trabalho das 7h às 23h da noite estava me adoecendo. Comecei a estabelecer horários para visualizar e responder esse tipo de assunto, também sigo na tentativa de precificar minha hora a fim de entender quanto cobrar por um serviço que demande energia, dias e horas afinco. São detalhes, mas que vêm fazendo alguma diferença para mim na busca por um equilíbrio entre minhas aspirações profissionais, necessidades financeiras e qualidade de vida.

A cobrança excessiva no trabalho independe de idade ou nível profissional, podemos ver um estagiário de 18 anos ou um CEO de 50 em níveis preocupantes de esgotamento, cada um com suas demandas. Isso inclusive pode ser um ponto em comum numa conversa para alinhar expectativas de produtividade: todo mundo passa por isso e possivelmente, seu superior compartilha da mesma estafa que você.

É claro que, muito infelizmente, não é em todo trabalho que temos o privilégio do diálogo e compreensão, então que tenhamos isso ao menos de nós mesmos. Inclusive para saber quando é possível se retirar e valorizar nossos esforços e capacidades. Ao longo do que vou descobrindo, conto com dicas que você possa me dar nesse papo que proponho, enquanto isso, sigo contando até 5 inspirando, contando até 5 segurando o ar e contando até 5 expirando.

—Ana Daflon @ana.daflon